A alienação do prazer

É
fato que vivemos em meio a uma sociedade que se contenta com o consumo, e na
qual o homem tem sido reduzido, muitas vezes, a um mero consumidor, um mero
comprador que tem dinheiro para gastar. Há pessoas que compram para se
distrair, compram para comemorar, compram para aliviar o stress, compram,
compram, compram… Este consumismo desenfreado tem sido uma marca da sociedade
atual. Os jornais têm noticiado muito mais sobre como o poder de compra da
população aumentou ou decresceu, do que noticiando acerca de greves de
universidades, por exemplo.
Gostaria,
nesta breve reflexão, de pontuar duas coisas que acho
fundamentais de serem ditas acerca do consumismo e de que forma este consumismo
interfere e tem a ver com a vida cristã. Como bom presbiteriano, vamos aos
pontos:
1. O consumismo distorce o sentido
principal da existência do homem: Quando
observamos o Catecismo Maior de Westminster, a primeira pergunta é: “Qual o fim
supremo e principal do homem?”, para a qual temos a seguinte resposta: “O fim
supremo e principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.”
Contudo, o consumismo está mudando o foco disto. Ao invés de o homem viver para
glorificar a Deus, o consumismo tem gritado aos quatro ventos: “Glorifique a si
mesmo! Consuma e seja feliz! Compre, gaste e seja feita a sua vontade!” o
consumismo está desviando a glória que o homem deve dar a Deus para que o homem
glorifique a si mesmo através de seu consumo.
Observamos
que nosso Senhor Jesus Cristo advertiu acerca de onde está o nosso tesouro: “Não acumuleis para vós outros tesouros
sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e
roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem
ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.” (Mt 6:19-21 - ARA). A afirmação de
Jesus é pungente! “[…] onde está o teu
tesouro, aí estará também o teu coração.” Amigo leitor, onde está o teu
coração? Em produtos que você compra e que, num breve tempo, já enjoa deles; ou
seu coração está firmado nas promessas de Deus, em uma vida comprometida com a
santidade e a comunhão plena com o Senhor?
O
sentido da vida não é o consumo desenfreado, não é a satisfação do nosso ego
através das compras, não é o acúmulo de tesouros adquiridos. Não! O sentido da
vida é glorificar a Deus! Sem isso, sem viver para a glória de Deus, nada do
que você faça será algo agradável a Deus e saudável para você. O consumismo
está aí, distorcendo o sentido principal do homem, mudando conceitos e moldando
mentes. Mas e você, como cristão, servo de Deus, como tem reagido a este
consumismo? Tem se entregado a ele sem questionar, sem “pestanejar”, ou tem
resistido à pressão da sociedade atual e permanecido firme no Senhor, ligado a
Ele, ajuntando, verdadeiramente, tesouros no céu, onde traça nem ferrugem
corrói?! Querido leitor, analise sua vida e sua conduta e cuide para não cair
na esparrela do consumismo! Mas a conversa não para por aqui.
2. O consumismo é uma distorção dos
valores cristãos: Toda
ideia, todo conceito de valores cristãos é distorcido pelo consumismo, por essa
busca desenfreada pelo prazer refletida no consumo indiscriminado. Luiz Sayão
afirmou que: “Para essa mentalidade [consumista], as virtudes como lealdade,
fidedignidade, honestidade, honra, têm o eu preço. Basta pagar o preço correto
para que qualquer pessoa aceite.”[1]
O
que se pode observar é que esta mentalidade consumista tem atingido a esfera
religiosa de forma extremamente destrutiva! O evangelho tem sido comercializado
em “três vezes sem juros”. É lamentável, mas é a realidade da igreja brasileira
hoje, que tem sido assolada pela teologia da prosperidade (ou da miséria). Tudo
nesta “teologia” é voltado para riquezas, bens materiais… exemplo disso são os
comerciais de divulgação da IURD na Rede Record. Observando estes comerciais
pude notar que a grande ênfase é no que foi conquistado (em termos de bens
materiais) por aqueles que aderem à IURD. Nada de mencionar Deus, salvação,
arrependimento…
O
verdadeiro cristianismo diz não ao consumismo e a este prazer alienado e
firma-se em promover e desenvolver verdadeiras virtudes cristãs. Nós fomos
criados para a glória de Deus e para vivermos da maneira como ele quer que
vivamos e a fim de que possamos desenvolver as virtudes que fazem parte da vida
cristã sadia e autêntica, e não para que fôssemos meros consumidores, que se
alegram simplesmente em gastar.
Para
o cristão autêntico, o cultivo dos valores, das virtudes cristãs será algo que
trará grande felicidade! Felicidade muito maior do que qualquer quantia de dinheiro possa pagar!
Jesus
conta uma história triste de um homem que colocou seu coração nas riquezas, e
nos ensina uma frase que resume bem o espírito consumista e o final daqueles
que vivem neste caminho. “Mas Deus lhe disse: louco, esta noite te pedirão a tua
alma; e o que tens preparado, para quem será?” (Lucas 12.20).
Meu
desejo é que você reflita bastante sobre o que o consumismo pode levar, e como
o prazer dado pelo consumismo é algo efêmero. Não troque aquilo que é eterno
por aquilo que é efêmero! Não desperdice sua vida, não jogue sua vida fora
sendo um mero consumidor de mercadorias, vivendo ansioso por sempre querer
comprar mais. Viva, de fato e de verdade, para a glória de Deus!
Em
Cristo,
Arthur Corrêa
Caro Arthur
ResponderExcluirGrato pela verdade tão bem pontuada a luz das Escrituras. Ouvi, não sei quando, uma frase do Dr. R.Shedd, que aponta para a cosmovisão cristã saudável: "Quando vou ao shopping center vejo o que não preciso." Paulo diz na sua carta aos Romanos no capítulo 14, verso 17:Pois o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo. Forte abraço.
Marcelo Germano
Grande Marcelo!
ResponderExcluirPrazer te ter aqui, meu caro.
Lendo seu comentário lembrei-me de uma frase que pode definir bem esta sociedade consumista: "Compramos coisas que não precisamos, com o dinheiro que não temos para impressionar gente de quem não gostamos." É bem isso que tem acontecido.
Obrigado pelo comentário extremamente relevante, e que dá um "up" interessante no post. Lançar mão de um ad verecundium de Dr. Shedd é sempre bom, sem falar, é claro, de Paulo.
Forte abraço! E que Deus o abençoe!