Comentário: Vencendo o Mundo, Joel Beeke

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Ficha técnica

Autor: Joel Beeke[1]

Tradutor: Francisco Wellington Ferreira

Ano de publicação em inglês: 2005

Ano de publicação em português: 2008

Editora: Fiel

Páginas: 215


Comentário

Conforme relata a sinopse do livro, “Beeke nos ajuda a entender os perigos do mundanismo”. De fato, o autor cumpre ao que é proposto aqui. O livro vem como uma resposta altissonante a este sério problema que tem atingido a igreja em todas as nações. Logo na primeira frase do prefácio, Beeke deixa claro seu temor e motivação para escrever este livro: “O mundanismo está destruindo a igreja de Jesus Cristo” (p. 9). Guiando-se sempre por esta temática, Beeke vai, então, desenvolver sua obra.

A obra é dividida em 21 capítulos, que por sua vez, estão agrupados em 4 partes. O autor já afirma no prefácio que tal livro é fruto de mensagens proferidas por ele na Escola de Teologia do Tabernáculo Metropolitano de Londres, sendo que cada mensagem constitui-se em uma parte do livro.

Na primeira parte, que compreende os capítulos 1 a 3, Joel Beeke mostra-nos como o mundanismo pode ser vencido mediante a fé salvadora em Jesus Cristo. Beeke ressalta, no primeiro capítulo, o que significa vencer o mundanismo e em que isto implica (perseguições são enfatizadas aqui). No capítulo seguinte, o autor destrincha o texto de 1João 2:16[2] e mostra três maneiras pelas quais somos seduzidos a entrar no mundanismo, a saber: a concupiscência dos olhos, a concupiscência da carne e a soberba da vida. Após apresentar aquilo que nos seduz ao mundanismo, Beeke nos mostra quatro atitudes que devemos ter para resistir a tais seduções: 1. Crer em Jesus, o Filho de Deus; 2. Purificar o coração por meio da centralidade em Cristo; 3. Viver de acordo com o que agrada a Deus; e, 4. Viver em função da eternidade. No último capítulo desta primeira parte, Joel Beeke nos apresenta algumas atitudes a fim de que nossa vitória sobre o mundanismo seja duradoura.

Na segunda parte, Joel Beeke trata da maneira como Calvino respondeu ao mundanismo, a saber, por meio da piedade. Confesso que esta parte foi, para mim, extremamente enfadonha. Nem parecia o mesmo autor da entusiasmante parte anterior. Beeke escreve com peso na pena, a leitura foi muito mais truncada do que na primeira parte da obra. Como não consegui concatenar bem as ideias de Beeke nesta parte, deixo que ele mesmo fale qual seu propósito: “O propósito dos capítulos 4 a 7 é mostrar que a piedade de Calvino é uma resposta suficiente ao problema do mundanismo […]. Depois de uma consideração introdutória na definição e objetivo da piedade, conforme o pensamento de Calvino (Capítulo 4), examinaremos como essa pietas afeta as dimensões teológica (Capítulo 5), eclesiológica (Capítulo 6) e prática (Capítulo 7) do pensamento de Calvino.” (p. 44).

A terceira parte enfatiza a necessidade do cultivo da santidade para vencer o mundanismo. Beeke começa esta parte chamando o leitor ao cultivo de uma vida santa sob uma perspectiva trinitária. No capítulo seguinte, o autor parte para algo mais prático, apresentando sete atitudes que o cristão deve ter em busca da santidade. Dentre as atitudes elencadas por Beeke destacam-se: conhecimento e amor pelas Escrituras; morrer para o pecado e viver para Cristo; a comunhão com a igreja; e, entregar-se totalmente a Deus. O capítulo que se segue é curto (apenas seis páginas), mas espetacular! Nele, Joel Beeke nos dá várias razões que devem nos encorajar na busca e no cultivo da santidade. A seguir, o autor nos mostra alguns obstáculos a um viver santo, que, em resumo, são frutos da corrupção natural do coração humano. No último capítulo desta parte do livro, Beeke trata acerca da alegria em se cultivar a santidade, mostrando que é uma alegria suprema, contínua e antecipada. O ponto alto desta terceira parte do livro é a cristocentricidade. Beeke mantém o foco constantemente em Cristo a fim de que, como cristãos, possamos nutrir uma vida santa.

Na quarta e última parte, o autor volta-se especialmente para o público pastoral. A parte é intitulada “Vencendo o mundo no ministério”, na qual Joel Beeke vai trabalhar vários aspectos da vida ministerial e como o pastor deve vencer o mundanismo dentro destas esferas. O autor trata desde a vida de oração do pastor, passando pela família do pastor, a pregação, o pastoreio propriamente dito, e por dois temas que considerei cruciais nesta parte nos quais Beeke trata da luta do pastor contra o orgulho e do conflito que os pastores têm com as críticas. Beeke encerra o livro mostrando, sob uma perspectiva trinitária, quais convicções os pastores devem ter para vencer o mundo. São elas: trabalhar colaborando com a suficiência do Espírito Santo, ter consciência de que somos pastores das ovelhas que Cristo comprou com seu sangue, e que o Deus que elege é glorificado quando vencemos o mundanismo.

O livro de Beeke é uma ótima obra, muito prática, muito pastoral e muito pessoal. Em vários momentos da obra, dá-se a impressão de que se está sentado no gabinete pastoral do autor ouvindo os conselhos que ele tem para dar. Além disso, é uma obra muito relevante no contexto atual, em que vemos a igreja, como bem ressaltou o autor, estar sendo destruída pelo mundanismo.

Contudo, há algumas críticas que gostaria de ressaltar. Primeiramente, acho que Beeke exagerou no número de citações diretas. Isto me faz perder um pouco da fluência da leitura e, em alguns momentos, o livro fica parecendo uma “colcha de retalhos”, com várias citações, uma seguindo a outra. Não que sejam citações ruins, mas acho que o livro perde um pouco com o abuso das mesmas. Outra crítica que tenho ao conteúdo da obra diz respeito a algumas opiniões de Joel Beeke que eu considero, no mínimo, questionáveis. Destaco duas: na página 26 o autor dá a entender que o uso de métodos artificiais para controle de natalidade (mesmo dentro do casamento) constitui-se numa tentativa de se intrometer e usurpar o papel da providência divina. Noutro momento da obra, na página 30, Beeke me pareceu considerar o fato de ouvir música cristã contemporânea como pecado. Basicamente, quanto ao conteúdo, são estas as críticas.

Duas outras críticas que quero ressaltar dizem respeito à questões mais estruturais da obra. A primeira é relacionada às notas textuais do livro. Infelizmente, elas foram incluídas no final da obra, o que faz com que o leitor perca a fluência na leitura se for conferir uma nota que lhe chama atenção[3]. Seria mais interessante se fossem notas de rodapé. Outro ponto negativo é a revisão final da obra que deixou um pouco a desejar. Comecei a observar a partir da página 67 e notei vários erros bobos (alguns simplesmente de digitação), mas que poderiam ser corrigidos. Alguns exemplos: na página 69 está escrito “quaro”, onde deveria ser “quatro”; na mesma página, está escrito “É a meio pelo qual…”, onde o artigo deveria ser masculino; há uma frase começando com inicial minúscula na página 86; há uma citação de uma referência bíblica na página 124 que não existe, “Lc 33.31-32”; falta uma abre aspas na página 127; um erro de concordância na página 158, onde se lê “… até nas mais intensa perseguição…”; dentre vários outros erros. Pelas minhas contas foram cerca de 13 erros de revisão.

Entretanto, tais críticas não desmerecem, de maneira alguma, o conteúdo da obra. Apesar de discordar das posições de Beeke que citei acima, isto não influenciou negativamente na obra. E as falhas da revisão acontecem mesmo, mas podem ser corrigidas numa próxima edição.

Vale ressaltar a forma pela qual Beeke conduz sua argumentação, sempre ressaltando a centralidade de Cristo, a santidade de Deus, e a absoluta necessidade do cultivo de leitura constante das Escrituras e de uma vida de oração sempre na dependência do Espírito Santo a fim de vencer o mundanismo.

Fato é que este é um livro extremamente relevante em virtude de sua temática, e que deveria ser lido por todos aqueles que anelam vencer o mundanismo, e especialmente por pastores e líderes, a fim de conduzirem suas ovelhas nesta vitória sobre o mundanismo.

N’Ele,

Arthur Corrêa

 


[1] Joel Beeke é pastor da Heritage Netherlands Reformed Congregation e diretor do Puritan Reformed Theological Seminary. Beeke tem se tornado mais conhecido no Brasil em virtude de mais obras suas estarem sendo traduzidas, bem como por sua presença em conferências teológicas no país.

[2] “porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo.” (1João 2:16)

[3] Infelizmente, não é um problema exclusivo desta obra. Várias outras, de várias editoras, cometem a mesma falha.

Comentários

  1. Bom dia Arthur, agradeço seus comentários e sugestões. Um ótimo post! Contamos com as suas orações pela Editora Fiel.

    Abraços!

    Daniel
    daniel@editorafiel.com.br
    facebook.com/EditoraFiel

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  2. Olá Daniel, boa tarde!

    Agradeço seu elogio e o comentário.

    Certamente a Editora Fiel tem estado em minhas orações. É uma das editoras cristãs que tem se destacado por obras de qualidade em todos os aspectos.

    Abraço!

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